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Livro sobre como a ciência pode desfazer o envelhecimento ganha versão em português

No próximo dia 5 de junho será lançada a versão em português de um livro que já é um clássico da biogerontologia mundial, com versões lançadas em espanhol, alemão, russo e italiano, além da original em inglês.

Trata-se do livro Ending Aging, que em português tem o título de O Fim do Envelhecimento, do biogerontologista britânico Aubrey de Grey, PhD pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido. O livro explica que o envelhecimento não é algo obscuro e misterioso, mas um fenômeno compreensível cientificamente: o acúmulo de danos a nível celular e molecular. E é justamente esse acúmulo de danos que resulta nas doenças relacionadas ao envelhecimento, ou seja, que são muito mais frequentes em pessoas de mais idade do que em pessoas mais jovens. Assim, o câncer, as doenças cardiovasculares, o mal de Alzheimer, o mal de Parkinson, a diabetes e tantas outras doenças são uma continuação do processo do envelhecimento — sua fase final — quando o acúmulo de danos chegou a um ponto tal que o organismo não consegue mais lidar com eles, deteriorando-se as funções físicas e mentais.

Segundo de Grey, a principal razão para que a ciência e a sociedade encarem o desafio de desfazer o envelhecimento é humanitária. Todos os dias morrem cerca de 100.000 pessoas no mundo (aproximadamente 2/3 de todas as que morrem) por causa de doenças relacionadas ao envelhecimento. Isso sem contar todo o sofrimento pelo qual passam nas suas últimas décadas e anos de vida, e o sofrimento de parentes e entes queridos. Além disso, é um fato bastante estabelecido que uma pessoa com um tratamento de saúde razoável gasta em seu último ano de vida mais do que gastou durante sua vida inteira em saúde. Assim, o peso para as famílias e para os Estados que proporcionam assistência à saúde, especialmente quando a expectativa de vida aumenta continuamente, tende a crescer intensamente se nada for feito para desfazer o envelhecimento e evitar que as pessoas sequer cheguem a ter as doenças que, se não forem evitadas, tirarão sua capacidade de se cuidar sozinhas, e depois, as matarão.

No livro O Fim do Envelhecimento, de Grey — em uma estratégia de “dividir para conquistar” — divide o envelhecimento em sete tipos básicos de danos a nível celular e molecular, e para cada um desses tipos de danos, ele propõe uma estratégia de reparação. Os tipos básicos de danos são: as mutações mitocondriais, a formação de agregados extracelulares e intracelulares, os produtos finais da glicação avançada, a senescência celular, a diminuição nas reservas de células-tronco e as mutações nos nossos cromossomos. Quanto às estratégias de reparação, o ponto inovador da abordagem do biogerontologista britânico é que não são estratégias para parar ou retardar o envelhecimento, pois, em primeiro lugar, isso significaria mexer com o metabolismo (algo extremamente complicado), e em segundo lugar, desfazer o envelhecimento permitiria reverter os danos à saúde das pessoas que já têm uma idade avançada (sem contar que o retardamento, a longo prazo, é uma batalha perdida). De uma forma geral, a estratégia de Aubrey de Grey é deixar o metabolismo continuar com o envelhecimento, mas periodicamente, implementar um conjunto de terapias que repare os danos já ocorridos, desfazendo o envelhecimento.

O lançamento no próximo dia 5 de junho será apenas da versão digital em português, ficando a edição impressa para ser feita futuramente. Os dois primeiros capítulos já estão disponíveis para leitura em português no site https://endingagingofimdoenvelhecimento.wordpress.com . Para saber mais sobre o lançamento, entre na página de Facebook da tradução, a qual foi realizada pelos tradutores Nicolas Chernavsky e Nina Torres Zanvettor (autores deste texto): https://www.facebook.com/Tradução-do-livro-Ending-Aging-O-Fim-do-Envelhecimento-222477488258382/. Na elaboração do livro, Aubrey de Grey teve a ajuda de seu colaborador Michael Rae.

O livro se divide em 15 capítulos e um epílogo, com as seguintes temáticas:

Capítulo 1: Aubrey de Grey explica o momento “eureca” do surgimento do conjunto de estratégias de reparação dos danos do envelhecimento que ele chamou de SENS (Estratégias para a Construção de um Envelhecimento Negligenciável, na sigla em inglês).

Capítulo 2: O autor entra na temática das dificuldades sociais e psicológicas para se enfrentar a questão do envelhecimento, inclusive analisando o fato de que hoje em dia temos ferramentas tecnológicas que eram absolutamente impensáveis durante praticamente toda a história da humanidade.

Capítulo 3: Explica-se em que consiste cientificamente o envelhecimento, sendo basicamente o acúmulo de danos a nível celular e molecular. Isso estabelece o envelhecimento humano como um fenômeno mais físico do que biológico, o que significa que o nosso corpo não está “programado” para envelhecer, mas que a evolução não nos equipou com um sistema de manutenção eficiente o suficiente para mantê-lo em bom funcionamento indefinidamente.

Capítulo 4: Abordam-se os problemas das duas principais estratégias históricas para a questão do envelhecimento, que são as estratégias gerontológica e geriátrica. A gerontológica teria o problema de tentar mexer com o metabolismo, ainda parcamente compreendido, levando a riscos e dificuldades insustentáveis com o atual grau de tecnologia. A geriátrica abordaria os problemas de saúde quando já teriam atingido um grau avançado demais na cadeia de eventos. Assim, de Grey propõe uma outra estratégia, a de engenharia, que, em um ponto intermediário entre as outras duas, repararia os danos ocorridos antes de que se manifestassem nas doenças relacionadas ao envelhecimento.

Capítulo 5: As mutações mitocondriais são analisadas quanto a sua relação com o envelhecimento. O autor discute as várias teorias que tentaram explicar como elas aceleram o envelhecimento, até chegar a sua própria teoria, que lhe deu o PhD em Cambridge, na qual explica o processo pelo qual as mutações mitocondriais aumentam o estresse oxidativo por todo o corpo.

Capítulo 6: A estratégia de superação do problema das mutações mitocondriais é apresentada, no caso com a transferência — da mitocôndria para o núcleo da célula — dos 13 genes que ainda estão localizados na mitocôndria e produzem proteínas necessárias para seu funcionamento. Também é abordada a questão de como essas proteínas seriam posteriormente introduzidas nas mitocôndrias.

Capítulo 7: Aqui, propõe-se resolver o problema — muito influente na aterosclerose — do acúmulo de lixo dentro dos lisossomos (uma organela celular) através da incorporação ao lisossomo da capacidade de digerir materiais que atualmente não é capaz de digerir. Para isso, seriam utilizadas enzimas criadas com base no conceito de biorremediação.

Capítulo 8: Grandes causadores do mal de Alzheimer, os agregados extracelulares são analisados quanto ao seu processo de formação e as estratégias para se usar o sistema imunológico para decompô-los. As diversas vacinas em estudo são analisadas quanto a seus prós e contras, e vários caminhos possíveis de aperfeiçoamento são propostos.

Capítulo 9: Nossa pressão sanguínea aumenta com o passar dos anos em grande parte por causa da perda de elasticidade do sistema vascular causada pelos produtos finais da glicação avançada (AGEs), que causam também muitos outros problemas no corpo. Assim, são propostas formas de quebrar os AGEs para restaurar a elasticidade dos tecidos.

Capítulo 10: As células senescentes são células que não exercem mais sua devida função no corpo nem se reproduzem, mas que também não conseguem fazer a apoptose (autoeliminação), permanecendo então no corpo e secretando substâncias perigosas para suas vizinhas saudáveis. Assim, não só o sistema imunológico vai decaindo com o tempo, mas também inúmeros outros problemas de saúde são incrementados. Para resolver este problema, são analisados neste capítulo os possíveis mecanismos para livrar o corpo das células senescentes.

Capítulo 11: A falta de células em alguns locais do corpo torna-se um grande problema com o passar do tempo, uma vez que as células não podem se dividir indefinidamente. Assim, as terapias com células-tronco são necessárias para repor células em muitos locais vitais, como por exemplo o sistema digestivo.

Capítulo 12: O câncer é uma doença atacada fortemente pela humanidade já há várias décadas. Porém, ainda não foi possível vencê-lo, e uma das razões para isso é sua capacidade de se adaptar aos empecilhos colocados para ele pela medicina. Por isso, de Grey propõe uma terapia, para ser usada como último recurso, na qual a enzima telomerase seria impedida de ser produzida no corpo, aliando-se a isso uma reposição periódica de células-tronco.

Capítulo 13: Os mecanismos sociais que influenciam o progresso da ciência são explicitados, incluindo as relações interdependentes entre a comunidade de biogerontologistas, as pessoas com influência na população, os filântropos, o eleitorado, o Estado e a indústria farmacêutica. Aubrey de Grey explica como prevê que será a resposta da sociedade ao sucesso inicial em laboratório das terapias antienvelhecimento.

Capítulo 14: O autor explica que a ciência não chegará ao fim do envelhecimento de uma vez só, mas aos poucos. Inicialmente, ampliará a expectativa de vida, mas novos avanços contra o envelhecimento serão necessários para manter a expectativa de vida sempre em ascensão. Além disso, o início de toda tecnologia é sempre mais lento. Conforme for se desenvolvendo o processo, a tendência é se acelerar muito.

Capítulo 15: Segundo de Grey, todas as pessoas podem ajudar nessa jornada. O contato com os representantes do Estado é importante, assim como as doações a entidades que pesquisam tecnologias para reparar os danos que o envelhecimento causa.

Epílogo: Como após o lançamento do livro, em 2007, este teve uma nova edição em 2008, de Grey incluiu um epílogo onde ele comenta sobre os avanços que ocorreram nesse ano entre as duas edições quanto às tecnologias de reparação dos danos do envelhecimento.

Fonte: Carta Maior

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